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A ascensão de Cassiano no Esportivo na conquista do acesso em 2012

O seu psicológico foi colocado à prova, mas a ajuda do grupo de atletas o fez encontrar forças para concretizar a passos largos a sua ascensão no futebol profissional

  1. Publicado em 24/05/2020
A ascensão de Cassiano no Esportivo na conquista do acesso em 2012 Foto: Clube Esportivo

A história do atacante porto-alegrense, Cassiano Dias Moreira, em Bento Gonçalves não se resume apenas sendo um jogador de destaque na campanha do título do Esportivo na Divisão de Acesso de 2012. A batalha psicológica diante da perda de um ente querido comprovou a sua força e determinação e, sobretudo, mostrou o poder da união do grupo de atletas, que fez com que Cassiano, a passos largos, atingisse o patamar que o levou da Divisão de Acesso para a elite do futebol brasileiro. O momento mais difícil de sua vida se tornou, ao mesmo tempo, portanto, o mais importante da sua carreira. 

O seu psicológico foi colocado à prova durante a competição, porém, com a ajuda de seus colegas de equipe, Cassiano não desistiu de sua convicção e lutou para ajudar o Esportivo a alcançar o acesso à elite. O bônus do título e de seu protagonismo nos gramados veio à tona dois meses depois, com a sua ida ao Internacional. 

Hoje, com 30 anos, o atacante soma passagens marcantes por diversos clubes, entre eles Santa Cruz; Fortaleza, onde fez o gol que deu ao clube o título do Campeonato Cearense sobre o rival Ceará, em 2015; e Paysandu, onde marcou 20 gols em 30 jogos, em 2018. Atualmente, o atacante está no Boavista, da elite do futebol português. 

“Uh é Cassiano”

Esse grito entoado pelo torcedor alviazul permeou a conquista da Divisão de Acesso de 2012. Versátil, trombador e muito veloz, Cassiano se tornou, sem exageros, o terror das defesas adversárias. Com um grupo experiente, o Esportivo alcançou o acesso e o título de maneira incontestável, terminando na liderança em todas as fases da competição. O título foi erguido após a equipe bento-gonçalvense superar o Passo Fundo na final. Cassiano anotou oito gols pelo Esportivo e foi considerado um dos protagonistas do título. 

Ao longo da competição estadual, Cassiano já era um dos xodós do torcedor alviazul pelos seus gols emblemáticos. A velocidade era a tônica de suas habilidades dentro de campo, e que fazia completa harmonia com centroavante Zeferino e o meia Rafael Bittencourt, os motores do ataque alviazul. 

A sua passagem pelo Esportivo, no entanto, não foi marcada apenas por sua grande fase dentro das quatro linhas. Enfrentar a perda de um ente querido e, mesmo assim, se manter estável psicologicamente para, no confronto seguinte, ser eleito o melhor em campo não é uma tarefa nada fácil. Embora o abalo emocional tenha sido significativo naquela ocasião, Cassiano encontrou combustível suficiente para seguir a sua alçada ao lado dos colegas de equipe. 

A mãe de Cassiano, Ângela, faleceu na madrugada de sexta para sábado. Naquele final de semana o Esportivo teria um compromisso, mas o atleta estava suspenso. “Fui para Porto Alegre para ficar próximo da minha família. Na segunda-feira à noite o Winck (técnico) me ligou perguntando se eu não poderia voltar, pois tínhamos um jogo importante na quarta-feira, e que ele contava comigo. Mas ele queria que eu estivesse bem de cabeça e queria que eu voltasse para Bento e ficasse perto dos meus companheiros, e que eles dariam todo o auxílio para que eu pudesse jogar e que tivesse uma cabeça boa”, explica. 

Neste momento, Cassiano se deparou com uma demonstração significativa de união de todo o grupo para que pudesse criar forças para atuar. “Na terça eu voltei com meu pai e mais dois amigos. Cheguei para fazer o treinamento e, na quarta, a gente foi a o jogo e ganhou, e fui escolhido o melhor em campo. Esse momento me marcou muito, pois ali o grupo realmente demonstrou ser muito unido, me deu muita força neste momento tão complicado”, relata Cassiano. 

O fim de um tabu e o sobressalto de Cassiano

A pedra no sapato do Esportivo em 2012 foi o União Frederiquense, única equipe que, nas primeiras fases, a equipe alviazul não conseguiu vencer. No “quadrangular final”, o Esportivo visitou a equipe de Frederico Westphalen, visando acabar com o tabu. O confronto era um dos mais decisivos para o clube, e que poderia colocar o time alviazul em uma situação muito favorável na tabela caso conquistasse uma vitória. 

O jogo era no domingo. Na quinta para sexta-feira, Cassiano recebeu uma notícia preocupante através de sua irmã, Joseane: o seu pai, José, conhecido como Zecão, havia sofrido um AVC. “Ele teve que ser internado no hospital e ficou muito mal. Minha irmã me passou a notícia de manhã cedo e falei que, como a viagem era longe, eu iria viajar na sexta. Falei para ela que precisava ir para esse jogo. E, no retorno do jogo, ia direto para Porto Alegre para ficar próximo deles”, explica. 

 O confronto diante do União começou tenso. Logo no início da partida, em uma bola cruzada para a área, Cassiano apareceu livre dentro da área, mas furou em bola. CO jogador relata que estava cometendo muitos erros na partida. “Eu lembro que parei no meio de campo pensando para pedir para sair, pois não estava bem de cabeça. Nisso vou para o lado do campo e acontece um balão na saída da nossa área. Eu domino a bola no meio de campo, próximo a ponta esquerda e vou levando para o fundo. Faço o cruzamento, eu pego errado na bola e ela entra no gol, 1 a 0 para nós”, relata. 

O gol deu sobrevida para o Esportivo e, sobretudo, para Cassiano na partida. “Em seguida, eles saem com a bola, a gente consegue roubar, vou para a ponta direita e cruzo, e o Zeferino faz o gol, 2 a 0. Eu que estava com a cabeça para sair do jogo, quase pedindo para sair, acabo por fazer um gol e dando uma assistência. Voltamos para o segundo tempo e faço mais um gol e, no final, sou eleito o melhor em campo novamente”, complementa Cassiano. 

A vitória sobre o União Frederiquense por 3 a 2 fora de casa foi primordial e deu ainda mais gás ao Esportivo na reta final da competição, que culminou no acesso e, posteriormente, no título da Divisão de Acesso. 

“O Esportivo é o clube que me colocou no cenário nacional e eu só tenho a agradecer”, afirma Cassiano

A sua passagem pelo Clube Esportivo foi um divisor de águas na sua carreira e na sua vida. Apesar das inúmeras dificuldades devido à perda da mãe e da situação crítica de saúde que se encontrava o seu pai, o grupo de atletas foi um elo fundamental para ajudar o atacante a encontrar forças para manter o seu foco em busca de sua ascensão.

“Pelo que aconteceu e pelo que o grupo fez por mim foi sensacional, e foi o divisor de águas para a minha carreira. O Esportivo tem extrema importância na minha carreira e na minha vida, pois foi onde passei o momento mais difícil na minha vida, e onde me colocou num outro patamar a nível de futebol”, ressalta. 

Em pé: Márcio (Prep. de Goleiros), Fabiano, Raone, Mateus Santana, Victor Cardozo, Ediglê e Dirley; Agachados: Cassiano, Rafael Bittencourt, Anderson Feijão, Zeferino e Fábio Oliveira.

A história de Cassiano no Esportivo reflete diretamente na forma emblemática da conquista do tricampeonato da Divisão de Acesso, e comprova que a união do grupo foi um dos principais fatores que resultou no título e, em especial, na ascensão de Cassiano no futebol.

“Trabalhar com aquele grupo de 2012 foi algo muito importante para a minha vida. Aquele grupo era sensacional, realmente era uma família, todos os jogadores se davam muito bem. Conseguimos fazer uma grande campanha, ser campeão da Divisão de Acesso e, além de tudo isso, jogamos muito bem, fizemos uma competição sensacional. O Esportivo é o clube que me colocou no cenário nacional e eu só tenho a agradecer por tudo que vivi em Bento”, explica. 

No fim, Cassiano pode ser nomeado como protagonista por ser um personagem emblemático da grande campanha do Esportivo na Divisão de Acesso. Mas o verdadeiro fator que levou o Esportivo ao título, e que elevou o patamar do atacante foi os laços criados pelo grupo de atletas, o qual, ao final do campeonato, pôde ser chamado de uma verdadeira família construída no Estádio Montanha dos Vinhedos. 

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