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99 anos de Clube Esportivo: identidade que Bento Gonçalves perdeu e que precisa ser retomada

  1. Por Kévin Sganzerla

  2. Publicado em 28/08/2018

O que seria de nosso consciente sem a nostalgia para refletirmos? Como é bom vivenciar o passado. Lembra aquilo que nos dava orgulho de dizer “eu sou bento-gonçalvense”? Sim, a Festa Nacional do Vinho, a FENAVINHO, estampada muitas vezes nas publicidades pelas grandes avenidas da “PAULICEIA”. Os desfiles únicos que arrancavam sorrisos (pelo menos é o que dizem as fotografias), o vinho, único e abençoado, que era levado à festa por encanamentos ligados às vinícolas, coisa de outro mundo.

Toda essa fantasiosa descrição, infelizmente, não veio de minhas lembranças, afinal, não tive oportunidade de vivenciar tudo isso. Já fazem sete anos da última vez que tivemos a honra de pisar na nossa Fenavinho, e possivelmente esse número aumenta se falarmos da AUTÊNTICA Fenavinho. Pois é, faz tempo, não? A identidade que mostrava o nosso mundo, limitado por Garibaldi, Farroupilha, Cotiporã, Monte Belo do Sul, se esvaiu no esquecimento. O nome segue, a sua idade também. O RG, o CPF, registrados nacionalmente, se perderam, restando apenas as fotos, muitas ainda em preto e branco.

Foto: Vinícola Salton/Arquivo

Mas nem tudo está perdido! Restou ainda uma identidade para o município levar seu legado à nível nacional. As glórias, as vitórias, as conquistas, a população caminhando em direção à mais uma festa. Uma comunidade toda envolvida para apoiar, torcer, fazer presença, se divertir. Dentro de campo, a velha e autêntica peleia gaúcha. Não existia vida fácil nas quatro linhas para a Dupla Grenal, que saia da “Capital dos Gaúchos” já matutando o que os esperava. O orgulho de vestir azul e branco, ir ao estádio, ou ver na capa da Zero Hora mais um tropeço de seus confidentes, ou de poder ver esse time jogando no Maracanã e passando na televisão. O clube que fez envolver a comunidade de Bento Gonçalves ao futebol, com sua reciprocidade fiel.

Sou jovem. Esses tempos pude vivenciar e transformá-los apenas em imagens por meio de descrições, recordações, registros antigos, imagens que simbolizaram e eternizaram momentos da história de um clube, o clube que possui no nome de sua cidade: Clube Esportivo Bento Gonçalves. Essa identidade ainda resiste, firmemente, para um dia novamente voltar a distribuir a imagem de nosso mundinho, de origem italiana, ao mundão que é esse nosso Brasil. O nome permanece, bem como sua idade, velha, por sinal, e que está assoprando suas 99 velhinhas. Seu RG e CPF seguem registrados, mas limitam-se no sul do país. Sua imagem parece estar um pouco manchada, mas pronta para ser polida.

Comemoração do Acesso à elite do futebol gaúcho na década de 90

Queira ou não, o Esportivo foi amplamente significativo para a identidade de Bento Gonçalves, afinal, o futebol está atrelado ao “ser brasileiro”. É um grande propulsor. Hoje, tanto a Festa Nacional do Vinho, que mergulha em dívidas, e o futebol, que segue tentando escalar o Monte Everest, porém com poucos equipamentos, deixaram de ser a NOSSA identidade nacional, que levava o nome de Bento Gonçalves aos quatro cantos do país.

Bom, vamos parar com metáforas e ser um pouco mais rudes:

Atualmente nos deparamos com uma fortíssima desconfiança e, sobretudo, um pessimismo exacerbado dos bento-gonçalvenses quando citamos o nome do clube em discussões. A verdade é que o Esportivo perdeu o respeito do seu próprio povo! Bem, por outro lado, as desculpas esfarrapadas são muitas. Sigo sem entender como não conseguimos nos orgulhar da estrutura que temos para fazer futebol. Não quero aqui entrar em méritos da história atrelada à mudança de casas, mas hoje possuímos uma das melhores estruturas do interior gaúcho. Mas... Difícil escrever... Tentando defender de alguma forma o clube, tudo parece acabar em nuvens cinzentas rodeando nossas dependências.

A nossa identidade está em nossa cultura, mas, sobretudo, em nosso povo. O futebol, como fator do mundo contemporâneo, as festas tradicionais, de um mundo nostálgico, são a pura inspiração para motivar nosso coeficiente identitário. Devemos nos conhecer e nos orgulhar mais das conquistas dos frutos que surgiram desta terra bordada de parreirais.

Método para concertar tudo isso? Simples! Bento Gonçalves precisa retomar suas identidades para crescer e, sobretudo, dar VALOR para elas. As consequências serão muitas. E quando cito o nome da cidade, me refiro a todos que têm o orgulho de nascer nesta terra. E quando cito as identidades, não precisamos pensar apenas nas mais simbólicas, afinal, cada um de nós constrói a identidade de um município, seja o viticultor bento-gonçalvense cuidando dos parreirais, seja o jogador de futsal bento-gonçalvense que concorre a melhor gol da Europa, seja a atleta bento-gonçalvense, que saiu do Esportivo para brilhar na Seleção Brasileira nos primeiros anos do futebol olímpico feminino. Devemos dar o devido valor àqueles que levam consigo o nome da cidade para fora das fronteiras.

A única solução é caminharmos, unidos, novamente rumo à Montanha (dos Vinhedos desta vez, não faz diferença nenhuma). Grana? Não será só com milhares de notas de cem que um clube renascerá (ajuda bastante, mas não é tudo). Os 100 anos estão chegando. Está na hora de Bento Gonçalves retomar, pelo menos, uma de suas mais importantes identidades. Mas para isso, o clube precisa mostrar que está apto e convicto que é possível. Como fazer isso? INSPIRANDO CONFIANÇA!